quarta-feira, 15 de maio de 2013

União de um lado e Estado de outro contra os fumantes ( texto de 2009)



A nova lei antitabagismo ,sancionada pelo governador  de São Paulo José Serra (PSDB),  está sendo bem aceita pela população. E pode ser copiada em outros estados brasileiros, como Minas Gerais.  Isso se deve ao fato de, 70% das pessoas não fumantes sofrerem pelos males da nicotina jogada pela fumaça dos fumantes em locais públicos.
Um estudo publicado no “The New England Journal f Medicine”, a revista médica de maior circulação ilustra o impacto da lei na Escócia. Fizeram testes com pacientes no hospitais 10 meses antes, e 10 meses depois  da proibição. O resultado foi que, antes da proibição, 3.235 pacientes apresentaram quadros coronarianos agudos. Depois de 10 meses da lei em rigor, esse número caiu para 2.684, uma redução de 551 casos ( 17 % ).  Houve uma queda em todos os grupos: 14% fumantes, 19% nos ex-fumantes e 21 % nos não-fumantes. ( art. Dr. Drauzio Varella, Folha de São Paulo -30/08/08- p. E11). A psiquiatra Célia Costa, do Grupo de Apoio ao Tabagista do Hospital A.C.Camargo fez um estudo com 6.000 fumantes em tratamento. Concluiu que, em 50 % dos casos, a dependência do cigarro é psicológica. Apenas 20% dos pacientes tinham dependência grave de nicotina e 30 % apresentaram dependência relativa à substância.
A partir de uma pesquisa feita a pedido da Folha à Secretaria de Estado da Saúde, constatou que no ano de 2007 foi custeado R$ 92 mi para tratar as “doenças do cigarro”. “É um volume expressivo de recursos , especialmente se levarmos em conta que essas doenças podem ser previnidas”, diz o secretário estadual Saúde de São Paulo Luiz Roberto Barrdas Baratada
Sendo minoria na população, os fumantes não estão com a corda toda para usufluir de seus vícios em espaços públicos. O secretário estadual  da saúde afirma que a população irá ajudar na fiscalização. Em entrevista a Folha em agosto de 2008( ainda com o projeto de lei), o secretário responde seguinte pergunta: Esse projeto de lei não fere a liberdade individual do fumante? BARRADAS –E a liberdade individual da imensa maioria que não fuma? A restrição é uma tendência mundial. A fumaça não respeita fronteiras e já está comprovado que os fumódromos não são eficazes no isolamento dos poluentes. Por isso, não acredito que o projeto de lei seja duro.
Mas existem algumas pessoas e até médicos, no caso um cirurgião plástico, que se opõe drasticamente a lei. O Dr. Ithamar Stoccero, ex-presidente da Regional de São Paulo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica chegou a integrar uma associação chamada Libertas, fundada em 1999 para defender os direitos dos fumantes( e outra minorias) , mas não teve sucesso após sete anos por falta de administração. Stocchero não faz mais compras em shoppings, não viaja de avião, e nem frequenta mais uma pizzaria 1900, a qual se refere por ter lido um anuncio, “ Aqui é um ambiente livre de cigarro”. O Dr. diz ainda,“ Agora, se não vou a lugares em que não se fuma, por que impedir a opção de quem quiser abrir um restaurante só para fumantes?” Folha de São Paulo- 30/08/08)
A nova lei promove dicussões favoráveis e não favoráveis ao assunto. A Folha provocou polêmica nos diretórios acadêmicos com a tal pergunta: É ou não é inconstitucional o Estado legislar sobre o tema ? - O professor de direito constitucional da PUC-SP, Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira, diz que sim. A regulamentação sobre o funcionamento de bares e restaurantes é de competência do município.E o estado não pode legislar sobre o tema. “ Tem uma competência comum , da União, dos Estados, do Distrito Federal  e municípios , que é cuidar da saúde. Cuidar da saúde significa manter hospitais etc.  Isso é competência para promover atos visando cuidar da saúde. Cuidar é de atribuição de todos, mas não legislar-se que é competência da União ou do Município. Ora, por que o Estado está resolvendo legislar sobre isso? Ele está ofendendo a autonomia dos municípios.”diz Teixeira. Em controvérsia, a professora titular de direito administrativo da Universidade de São Paulo ( USP), Odete Medauar afirma  não ver inconstitucionalidade na proposta de legislação paulista para a restrição do fumo em locais fechados, mesmo sendo mais restritiva que a proposta federal.  “ Quando a competência é de todos, a União fixa diretrizes gerais- as chamadas normas gerais- e os Estados e Munícipios podem complementar . Então, na área de direito, ninguém sabe com exatidão o que são normas gerais e o que não são normas gerais.  No meu ponto de vista, a lei estadual não está brigando coma federal porque a restrição é igual, a de fumar em lugares fechados, Esse é o princípio. Não acho um desrespeito” completa Medauar.
 O tabagismo sendo restrito, de um modo pela União, de outro pelo Estado, o que não é democrático, é fumar em locais onde se possa prejudicar as pessoas que não tem esse hábito maléfico.  O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff( Casa Civil), por exemplo, já foram flagrados fumando no local em que trabalhavam.  Funcionários , visitantes e jornalistas também não respeitam a lei. No salão nobre, há dois cinzeiros grandes. Uma resolução interna da Câmara, de 1993, prevê até a possibilidade de o deputado responder a processo por quebra de decoro parlamentar se pego fumando na Casa por três vezes. Nunca houve uma acusação formal.  A presidência observa o disposto na Lei nº 9.294 e no Decreto nº 2.018/1996, que regulamenta a referida Lei. A lei, em resumo, proíbe cigarro ou qualquer outro produto do gênero em recinto coletivo, privado ou público, salvo em áreas exclusivamente a esse fim, “devidamente isolada e com arejamento conveniente”. Não é o que ocorre na prática no planalto.

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